
Se São Tomás diz que em certos homens – o avarento, por exemplo – a concupiscência das riquezas é infinita, que dizer então do desejo da vontade espiritual? Quanto mais elevado for o conhecimento dos bens espirituais superiores e do bem supremo, mais aumentará este desejo espiritual; e a fé cristã diz-nos que só Deus visto face a face a pode encher.
Portanto, a nossa vontade, em certo sentido, é verdadeiramente de uma grandeza sem limites.
Por isso, a bem-aventurança ou verdadeira felicidade, que o homem já deseja naturalmente não pode encontrar-se em nenhum limitado ou restrito, mas unicamente em Deus, conhecido pelos menos naturalmente e amado efetivamente acima de tudo.
São Tomás demonstra que a beatitude do homem, pelo fato de este conceber o bem universal, não pode consistir nas riquezas, nem nas honras, nem na glória, nem no poder, nem em qualquer outro bem do corpo ou bem infinito da alma, como a virtude, nem em nenhum bem limitado. E o argumento com que prova a sua afirmação baseia-se na própria natureza da nossa inteligência e da nossa vontade.
Quando julgamos ter encontrado a felicidade no conhecimento duma ciência ou na amizade duma pessoa nobre, depressa nos apercebemos de que é um bem limitado, o que fazia dizer a Santa Catarina de Sena: “Se quiserdes que uma amizade dure, se quiserdes saciar-vos por muito tempo com este corpo, deixai que ele se encha sempre na fonte de água viva; doutro modo, ele deixará de poder corresponder à vossa sede”.
Com efeito, é impossível que o homem encontre a verdadeira felicidade, que deseja naturalmente, em qualquer bem limitado, porque a sua inteligência, verificando imediatamente o limite, concede um bem superior e, naturalmente, esse bem é desejado pela vontade.
Se nos fosse concedido ver um anjo, vê-lo imediatamente, na sua beleza supra-sensível, puramente espiritual, a princípio ficaríamos maravilhados; mas a nossa inteligência, que concebe o bem universal, não tardaria a dizer-nos: isto ainda não passa de um bem finito e, portanto, muito pobre em comparação com o Bem por essência, sem limites e sem mistura de imperfeição.
Mesmo a soma de todos os bens finitos, misturados com imperfeição, nunca pode constituir o Bem por essência que concebemos e desejamos, assim como uma multidão inumerável de idiotas jamais pode equipara-se a um homem de gênio.
Extraído do livro: “O Homem e a Eternidade” de R. Garrigou – Lagrange
Fonte: ASCJ
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