Oração ao Sagrado Coração de Jesus
Jesus, Senhor do perdão,
fonte de paz e de graça
para os nossos corações.
Conforto dos pecadores,
alento de quem Vos reza,
força de quem Vos procura,
porque em Vós quer encontrar-se.
Nossas lágrimas são preces,
nossas lágrimas são gritos,
dizei, Senhor, à nossa alma:
Sou a tua salvação.
Quando a noite nos envolve,
ficai connosco, Senhor,
enchei de luz o silêncio
das nossas horas de sombra.
Jesus, bondade inefável,
nunca nos falte na vida,
Senhor, a Vossa clemência
e caridade infinita.
Jesus, nascido da Virgem,
nós Vos louvamos, cantando,
e sempre Vos louvaremos
na glória do vosso reino.
Concedei, Deus todo-poderoso, que, ao celebrar a solenidade do Coração do Vosso Amado Filho, recordemos com alegria as maravilhas do Vosso amor e mereçamos receber desta fonte divina a abundância dos Vossos dons. Por Nosso Senhor.
sábado, 19 de março de 2011
Um drama social que pode aumentar
A cena comove. Uma mãe com o rosto visivelmente carregado por uma vida sofrida, que nem mesmo a máscara consegue esconder, e um filho, frágil e outra vez menino, que lhe dá a mão para aparecerem juntos na fotografia, tal como aconteceu em outros tempos, lá longe, numa infância que quase nem um nem outro recordam.
Rui Calado, 34 anos, parece um anjo caído com o pijama azul do hospital. O Rui é um dos quatro doentes internados na Unidade de Infecciologia Respiratória do Hospital Pulido Valente: «Comecei a sentir cansaço, tinha expectoração, muito frio e estranhei que alguma coisa não estava bem, mas fui andando de dia para dia...», conta. Um dia percebeu que não poderia adiar mais a ida ao hospital – e o diagnóstico atordoou-o: «É muito complicado... Esta é mais uma doença, além das outras que tenho... Sou ex-toxicodependente, estou a metadona, tenho HIV, hepatite C...», revela o Rui com uma voz arrastada.
Emília, 51 anos, encolhe os ombros e, com um suspiro de resignação, diz que «depois de tanta coisa, já há tanto tempo... é mais uma». As parcas palavras da mãe, naquele quarto de isolamento respiratório, denunciam um drama social vivido em silêncio.
A tuberculose está associada à pobreza e às más condições de vida. Os mais atingidos são os sem-abrigo, toxicodependentes e doentes com VIH. «As condições socioeconómicas da população contribuem para uma doença que, já de si, é dos grupos mais desfavoráveis. Podemos prever que estas situações se agravem», afirma Nélson Diogo, coordenador da Unidade de Infecciologia Respiratória, onde está internado o Rui.
«Quando as condições sociais e económicas se agravam, os casos de tuberculose tendem a aumentar. Estas crises que surgem vão ter ao longo dos anos os seus reflexos e é natural que daqui a cinco, dez anos a situação não seja tão confortável como é agora», alerta o médico.
O futuro da doença
Fonseca Antunes, coordenador do Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose, expressa igualmente a sua preocupação com o que se está a passar. «A crise económica e financeira está a ser uma ameaça para a tuberculose no mundo. Por exemplo, Londres está a ser responsável pela incidência de casos de tuberculoses em Inglaterra, porque o tecido social se foi modificando com muito mais população estrangeira pobre.» Este alto responsável da Direcção-Geral da Saúde explica que a evolução do tecido social é determinante para esta e outras doenças.
Estima-se que em cada ano surjam mais nove milhões de casos de tuberculose e que, destes, 1,8 milhões acabem por morrer. Os mais altos valores de taxa de incidência situam-se na Ásia, África e Europa de Leste.
Em Portugal, foram diagnosticados 2756 casos em 2009. De 2002 a 2009 assistiu-se a um decréscimo médio anual de 7,3%. Fonseca Antunes confessa que «queria ter o conforto de saber que isto ia continuar na mesma, porque se assim fosse seria muito bom».
«Não sabemos», continua, «qual vai ser o futuro em termos sociais e políticos; ninguém pode ter a certeza sobre o que vai acontecer daqui a um ano e isso pode reflectir-se nesta doença».
Voltando a olhar para os números de 2009, verifica-se que em cada 100 mil portugueses, 24 ficaram doentes com tuberculose – um valor que indica que «ainda temos muito trabalho para fazer», reconhece Francisco George, director-geral da Saúde.
«Quanto mais cedo uma situação de tuberculose for diagnosticada, mais fácil é o seu tratamento e mais rapidamente deixa de transmitir o bacilo a outros. O nosso trabalho é diagnosticar precocemente e instituir a terapêutica rapidamente. Sabendo que a terapêutica é prolongada, o doente tem de colaborar no tratamento», acrescenta aquele responsável.
Chegar precocemente à população de risco
De acordo com Raquel Duarte, que coordena a comissão de trabalho da tuberculose da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), o problema centra-se na necessidade de melhorar a detecção dos casos doentes e chegar precocemente às pessoas que não chegam de forma autónoma aos serviços de saúde. «Os profissionais de saúde a trabalhar em tuberculose não incorporam habitualmente equipas de rua. Uma das falhas dos programas de tuberculose é o difícil acesso às populações que habitualmente não procuram os cuidados de saúde. A articulação das consultas de tuberculose com as equipas de rua que habitualmente apoiam estas pessoas permitem aceder-lhes muito mais facilmente, promover o rastreio precoce, detectar os casos mais precocemente e prevenir novos casos no futuro», explica.
É por isso que a pneumologista alerta para a necessidade de se «promover a educação da população, aceder às populações de maior risco promovendo a acessibilidade aos cuidados de saúde».
O director-geral da Saúde assume à FAMÍLIA CRISTÃ que «um trabalho informativo mais intensivo tem de ser desenvolvido» para que a mensagem chegue ao destinatário.
Há ainda quem pense que esta doença faz parte do passado, mas qualquer pessoa pode ser contagiada se estiver em contacto com o doente. Francisco George realça que «só quem está em tratamento pode circular na rua, porque se não estiver a ser tratado transmite o bacilo em situações de tosse».
Calcula-se que um caso de tuberculose possa infectar cerca de 20 a 40 por cento das pessoas que convivem no dia-a-dia com o doente. A doença atinge sobretudo os pulmões e manifesta-se através de tosse que se prolonga por mais de duas a três semanas, sudação nocturna, febrícula ao final do dia, cansaço e perda de peso.
A tuberculose é curável e prevenível, mas é fundamental que se tome a medicação de forma correcta, sendo o tratamento gratuito.
Muitos doentes são diagnosticados e tratados em ambulatório sem precisarem de passar pelo internamento. «Temos todas as condições para tratar o doente com tuberculose, só que um tratamento tem a duração, no mínimo, de seis meses. Há bolsas da população em que a adesão ao tratamento não é a melhor. O tempo de tratamento pode ir até nove meses, um ano. Os casos de multirressistência chegam ao ano e meio, dois anos. O habitual nos doentes é não cumprirem o tratamento totalmente, melhoram e param», lamenta o médico do Pulido Valente.
Para este profissional de saúde, a «única forma» de levar os doentes a cumprirem na íntegra o tratamento é através da administração diária da medicação supervisionada no centro de saúde ou no centro de diagnóstico pneumológico.
A pneumologista Raquel Duarte recorda que após a alta hospital, há situações que têm de ser tidas em linha de conta, como é o caso de o doente não ir às consultas de tuberculose, e aí «é necessário melhorar a articulação entre o hospital e o ambulatório».
Outra situação que acarreta problemas é o facto de o doente, enquanto for contagioso, não poder ter actividade profissional ou social, sob risco de contagiar outras pessoas. Enfatiza a responsável da SPP: «Essa fase pode ser complicada quer por motivos emocionais, quer económicos.» Mais uma vez se toca na tecla do drama social...
Sílvia Júlio
Publicado em Sociedade
fonte: revista família cristã
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